O Haiti lembra o Brasil em muitas coisas: o clima, o carnaval, a paixão pelo futebol, alguns costumes, problemas. Não é difícil caminhar pelas ruas de Porto Príncipe e nos deparar com alguma cena em que poderíamos dizer que estamos no Brasil. As ruas, o comércio, é como se um pedacinho da Terra Brasilis fosse transportado para o Haiti.
Engraxate
Assim como os lugares, muitas personagens nos traz este mesmo sentimento. Uma delas é o engraxate, que está em grande número por aqui. Aproveitando-se do costume do hatiano de usar roupas sociais ele é figura bastante comum.
A “Mulher Aguadeira”
Outra personagem é a “mulher aguadeira” que, segundo uma pesquisa, vem das províncias do interior para trabalhar na entrega de água e reside em grupos nas casas dos “donos da água”. A sua vinda para a Capital se dá pelo fato de não ser bom para a imagem ir pessoalmente comprar água nos postos. Assim, para manter o “status”, aquele que pode pagar recebe a água em casa através dos seus serviços.
O Sapateiro
Além da aguadeira temos os sapateiro, que pode ser encontrado com maior facilidade próximo ao mercado. Com sua máquina, cercado de sapatos e couro por todos os lados, ele ocupa vários pontos das ruas e trabalha em ritmo de facção. Também podemos encontrar alguns deles trabalhando em suas casas; através das portas estreitas podemos assistir um calçado nascer de suas mãos exímias e calejadas, com a ajuda de suas pequenas máquinas de costura.
O Vendedor de raspadinha
Figura bastante conhecida em algumas cidades brasileiras, o vendedor de raspadinha também está presente por aqui. Empurrando o seu carrinho, com um enorme bloco de gelo, garrafas de suco e cercado de abelhas. O grande problema é a qualidade da água com o que é feito o gelo e o seu transporte; tanto um como o outro nada confiáveis. Para quem não tem costume, ou anti-corpos suficientes, o refresco pode antecipar dias de muito mal estar.
Oi, soca o café no pilão. Oi soca o café no pilão… (Saudade)
Em alguns momentos parece mesmo que entramos num túnel do tempo. Assim me senti quando estava a caminhar pelas ruas de Bel Air e me deparei com duas pessoas preparando café. O homem, parecendo sair dos livros de história, socava o pilão enquanto uma senhora parecia peneirar o pó de café. Um cherinho bom de saudade fez recordar as manhãs e as tardes em família no Brasil em que o café era acompanhado de boas conversas. Sem dúvida cenas como esta podem ser vistas nos rincões do Brasil, talvez em alguns quilombos, mas esta se deu em um centro urbano, o que certamente é uma peculiaridade. Assim como as lamparinas que ganham espaço ao cair da noite.
Construções à caminho de Pationville
Outra cena impressiona na familiaridade com o Brasil: as favelas. Elas ocupam uma boa área e estão espalhadas pelos morros da Capital e no caminho de bairros mais afastados como Pationville. Um trecho em especial lembra muito a Rodovia Grajaú-Jacarepaguá. Favelas de ambos os lados e a estrada cortando ao meio. A produção de tijolos aqui parece ser bem grande entre os moradores. No entanto, o material parece ser de baixa qualidade, e as construções, como no Brasil sem qualquer supervisão de um especialista. O que aumenta os riscos de desabamento, assim como ocorreu no ano passado com a escola em Pationville.
Como os personagens, outras similaridades que podemos encontrar é a rinha de galo que, diferentemente do Brasil, segundo soube mas ainda preciso confirmar, não é proibida. Em Bel Air, principalmente, é possível ver os galos com cordões presos a suas patas, ou mesmo em cima de bancas. Apaentemente todos eles preparados para a rinha.
Além dos galos, também encontramos o jogo, não o do bicho, mas casas como loterias. Pela movimentação aqui, como no Brasil, as pessoas apostam muito na sorte. Ainda não temos um concurso grande como a Mega Sena, mas quem ponha fé, isso parece ter de sobra…