Gingando pela Paz no Haiti

Relatos de um capoeirista em terras haitianas

Archive for março \25\+00:00 2009

Apresentacao no Tambou Lapé, Tambores pela Paz

Posted by flaviosaudade em 25/03/2009

 

Mal desembarcamos no Haiti e já botamos a mão na massa, ou melhor, já pegamos no berimbau. O evento, Tambores pela Paz, ou em idioma Criole, Tambou Lapé. Não poderíamos imaginar o que nos aguardava. A ansiedade era grande. Como seríamos recebidos pelos haitianos? Qual seria a reação deles ao assistir uma apresentação de estrangeiros e de uma coisa que eles nunca tinham visto até então. Cerca de 3000 pessoas disputavam o único espaço iluminado no Bairro de Delma. pessoas nas lajes de casa buscavam o melhor lugar. Várias apresentações de rap e rara (vide o blog) levantaram a multidão.

Armando o berimbau. Coração batendo apressado, descompassado. Uma prece, uma certeza. Tudo vai dar certo!

Olhos desconfiados, de estranhamento. E foi o berimbau começar a falar. E foi a boca começar a cantar e o inesperado aconteceu. Todos em uníssono responderam ao coro. Palmas, sorrisos! E a capoeira marcou a união de duas culturas, de dois povos irmãos. E naquele momento já não haviam bandeiras, nacionalidade, fronteiras. Todos falavam a mesma língua e o berimbau comandava a festa.

Agradecimento especial ao Coronel Ubiratan Ângelo que relembrou seu tempo de capoeirista ao viola, a Beija-Flor que deu um show com a sua capoeira e levantou a galera e ao Querido mestre Genaro, criador da música “Paranê”, uma das músicas mais cantadas no mundo!

Antes luta, ferramenta para libertação física, a capoeira, e nós capoeiristas, temos a missão de atuar na comunhão e partilha de saberes entre os povos para a construção de uma nova sociedade.

Confira o vídeo no youtube

Apresentação no tambou Lapé, Tambores pela Paz, parte I

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Entrevista para o site Comunidade Segura

Posted by flaviosaudade em 24/03/2009

 

Quando chegou ao Haiti, há cinco meses, para implantar o projeto Gingando pela Paz no país, o contramestre de capoeira Saudade tinha dificuldade de dialogar com as crianças que seriam suas alunas. Elas não o olhavam nos olhos e brigavam por qualquer coisa. Hoje, capoeiristas, não se comportam assim.

“A percepção que tenho é de uma mudança muito grande de comportamento. Vemos menos discussões, sentimos que as crianças estão sendo mais amigas umas das outras, mais companheiras. Elas cuidam mais do seu espaço e fortaleceram a noção de grupo e de família”, diz Saudade.

Confira a entrevista na íntegra:

A Capoeira estimula diáolo entre crianças haitianas. Entrevista para o site Comunidade Segura

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O Rio de Janeiro continua lindo… e com os mesmos problemas.

Posted by flaviosaudade em 23/03/2009

 

No post anterior falava sobre como a nossa percepção se torna mais aguçada quando ficamos um longo período longe da nossa terra. E de como nos damos conta de detalhes que antes passavam despercebidos. Mas, certas coisas não necessitam de esforço para serem notadas. As precárias condições do sistema de saúde é uma delas. 

 

No Haiti a saúde é um dos grandes problemas da população. E somados a alimentação deficiente, a falta de saneamento básico e de hábitos de higiêne pessoal criam um quadro  profundamente degradante. Algumas instituições contribuem para minimizar este problema, como é o caso da Terra dos Homens, que desenvolvem um belo e louvável trabalho de saúde com crianças do Sul do Haiti.

 

Não tive oportunidade de conhecer mais a fundo o sistema de saúde do Haiti, mas o brasileiro este conheço muito bem. E em poucos dias de visita ao Brasil já deu para me certificar que os problemas permanecem. E dois acontecimentos me levam a esta conclusão.

 

O primeiro ocorreu no bairro da Glória, quando caminhava para o trabalho. Deparei com um guardador de carros estirado no chão. Auxiliado por um amigo, estava desacordado e  apresentava um quadro de pressão alta. Eu verificava os sinais vitais enquanto um taxista acionava o serviço de emergência (SAMU). No entanto, o atendimento foi extremamente demorado. Tempo suficiente para ele melhorar e apresentar depois um quadro de infarto do miocárido. Graças a Deus o socorro chegou, após a ligação de muitas pessoas.

 

Dois dias depois, estava pela Lapa quando avistei uma jovem desmaiada sendo carregada por várias pesssoas. Desta vez, tivemos a sorte de contar com o apoio dos alunos do curso de enfermagem da UNIGRANRIO. Enquanto eles prestavam o primeiro-socorro acionamos mais uma vez o serviço de emergência. Porém, desta vez, nem mesmo consegui aguardar a chegada da ambulância. Esperamos por mais de quarenta minutos sem sinal das sirenes do SAMU.  

 

Porém, pior que o SAMU foi a viatura da Guarda Municipal que passou por nós sem sequer averiguar o que estava acontecendo. Assim, ficaram duas dúvidas. Uma. Eles acharam que a ocasião não era da alçada deles. Mas, até onde sei, prestar socorro é dever de todo cidadão, que dirá um servidor. Duas. Eles não se deram conta do que estava acontecendo. E neste caso permanece o erro, pois são eles encarregados de prezar pela ordem urbana. E se um homem estendido na calça, com inúmeras pessoas à sua volta chama a atenção de uma pessoa comum, de um policial então…

 

E outros tantos são os problemas que não precisam de um olhar mais apurado: Disparos de fuzil; as ruas repletas de moradores de rua que formam verdadeiras confrarias… Mas, assim como o Haiti, ainda estamos amadurecendo, aprendendo a lidar com a liberdade. No Haiti encontramos algumas práticas que aqui já não vemos mais. E, certamente, hoje convivemos com outras tantas que no futuro deixarão de existir. Ainda que para isso seja necessário algumas boas décadas.

 

Lixo. Um problema de lá e daqui

Lixo. Um problema de lá e daqui

  

O lixo nas ruas é um bom exemplo do estágio de amadurecimento do povo. Tanto para nós braisleiros, quanto para os haitianos, ainda é muito difícil alcançar a consciência de que o bem e o espaço público pertence a todos nós e de que cada um é responsavel pela sua preservação. A diferença é que aqui contamos com um serviço de limpeza urbana eficiente, se comparada as duas realidades.

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Brasil, meu Brasil brasileiro

Posted by flaviosaudade em 18/03/2009

Base Aérea de Boa Vista

Base Aérea de Boa Vista

Estar no Brasil é motivo de muita alegria. Reencontrar a família, amigos, lugares traz-me um sentimento impossível de traduzir em palavras. Porém, ainda que à sombra daquilo que verdadeiramente são, para compartilhá-los é preciso assumir que as palavras, de certa ou de errada forma, limitam os sentimentos. No entanto, fica o esforço e a certeza que a intenção em certos momentos realmente valem muito. 

Apesar da emoção, é impossível manter o mesmo olhar para tudo aquilo que fora visto. Após a experiência de estar fora por algum tempo as coisas parecem ter um espírito difente, ainda que a roupagem continue a mesma na maior parte delas. Tudo parece ter mais movimentos e chamar mais a atenção; atentamos para coisas e fatos que até então não tínhamos nos dado conta. Outro mundo parece surgir, coisas parecem nascer e renascer. E assim foi quando vi tremular a Bandeira na Base de Boa Vista. Senti-me renascer. 

A viagem do Haiti para o Brasil não fora nada tranquila. E digo isso pelo meu coração correr na frente e toda viagem parecer demasiadamente demorada. O meus ponteiros não acompanhavam os da máquina voadora, definitivamente. E fiquei assim, com o olhar voltado para o horizonte em busca de algum sinal que me anunciasse a chegada.  

 

 

Saudade e Jody

Saudade e Nody

 

Estavam no vôo, além da tripulação, o sargento Kalazans, que voltava de um ano de missão, e um haitiano que estava prestes a realizar o seu sonho que é de muitos outros: viver no Brasil. Nody, esse era o seu nome, estava à caminho de Belo Horizonte, onde irá cursar medicina. E a julgar pela sua coragem, não tenho dúvidas de que ele se tornará um excelente médico. Quiça ele possa inspirar outros mais a seguir o mesmo caminho e mesmo auxiliá-los para que também eles possam lutar pelos seus sonhos, ainda que em terras distantes.  Tive o prazer de acompanhá-lo até a rodoviária no Rio de Janeiro e vê-lo seguir rumo ao futuro.

 

Mas nada seria possível não fosse a ajuda de algumas pessoas. Assim, gostaria de registrar meu profundo agradecimento ao Embaixador do Brasil no Haiti Sr. Igor Kipman e sua esposa, a Embaixatriz Roseana AbenAthar Kipman, que muito tem nos apoiado, de maneira que não nos sentimos tão distantes de casa, ao General Lanzellotte, ao Comandante Luiz Octávio, responsável pelo destacamento de segurança da Embaixada, ao Ten Cel. Joaldi, sempre muito atencioso ao nos receber no embarque, a tripulação do Hércules e a Força Aérea Brasileira.

 

 

 

 

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