No ano em que Mestre Pastinha completaria 120 anos o Gingando pela Paz presta a sua homenagem. No último sábado, 27, foi realizada a exibição do filme: Pastinha. Uma Vida pela Capoeira, do diretor Toninho Muricy, quem tive o prazer de conhecer dias antes de rotrnar ao Haiti. A exibição contou mais uma vez com o apoio do Centro Cultural de Estudos Brasileiros Celso Ortega Terra, o CEB.
Sala lotada, olhares atentos e o berimbau anunciou a chegada do grande mestre, que com a sua fala mansa, pausada, e no alto da sua sapiência encantou a todos. Claro, esta é uma inferência pessoal, mas falo daquilo que pude ler no semblante das pessoas. No entanto, não tenho dúvida de que a sua história de vida, a sua luta e dedicação toca o coração de qualquer pessoa. A sua entrega e o seu amor pela arte da capoeira, a sua nobreza de espírito e dignidade humana não passa desapercebido, mesmo pelos olhos e corações menos atentos.
Estavam presentes, além de 50 alunos do projeto, convidados e alunos dos cursos oferecidos pelo CEB e o secretário executivo do Viva Rio, Rubem Cesar Fernandes. Além deles, tivemos a participação especial da capoeirista Fatou Diawara, aluna da professora Marcia que leciona em Abidjan, África.
Uma vez mais agradecemos o carinho e a dedicação do CEB, aos amigos Zé Renato e Normélia, que também marcaram presença, e que desempenham belo trabalho na promoção do diálogo entre as culturas hatiana e brasileira. E que oportunizam pessoas de diversas nacionalidades a conhecer um pouco mais da Terra-brasilis, da sua gente e da sua arte.
Vicente Ferreira Pastinha: Um dos grandes pensadores da humanidade
Pastinha foi um dos grandes pensadores da humanidade. E ainda que com menor repercursão, pelo menos por enquanto – haja vista a disseminação da nossa arte pelo mundo – deixou uma importante contribuição para a evolução da humanidade. Para além da esfera física, conseguia refletir como poucos o papel da capoeira. Visionário, do alto de sua sapiência e simplicidade magistral, nos ajudou (e permanece ajudando) a compreender que devemos olhar para dentro para seguirmos adiante. Dizia que “a capoeira é para evoluir o espírito”. E no meu entendimento, que não cessa de tentar entender, o espírito, neste caso, é a nossa própria humanidade. Essa sua frase sempre me inspirou muito e serve de norte para o desenvolvimento das atividades do projeto Gingando pela Paz. Muito embora eu me deixe derrubar pela distração às vezes, suas observações acompanham-me sempre. Seus manuscritos são como uma bússola para quem deseja basear-se nos fundamentos e tradições da capoeira. Infelizmente, vemos por aí muita gente à margem de suas lições, agindo de maneira totalmente arbitrária e irresponsável. Porém, como também disse o mestre “a capoeira é tudo que a boca come”, por tanto, serve ao ser humano seja qual for a sua necessidade. Assim, cada um come aquilo que deseja para si. No entanto, os tempos são outros assim como as mentes, ou espíritos. E ainda que nos demoremos em repetir alguns erros as folhas secas não tardam à cair para que venham as novas. A evolução é um processo inexorável e não há nada nem ninguém que possa impedi-lo, ainda que empenhe todos os seus esforços e ferramentas, pois a evolução está acontecendo nos quatro cantos da terra.