Gingando pela Paz no Haiti

Relatos de um capoeirista em terras haitianas

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A capoeira, para além de seus recusos práticos, nos convida ao exercício da reflexão. E é justamente nesse campo em que o jogo torna-se mais difícil e necessário. Como Pastinha magistralmente disse um dia “a capoeira é para evoluir o espírito”. Evolução que, estou certo, não se dará senão pelo exercício da reflexão.

A Capoeira à serviço da Humanidade

Posted by flaviosaudade em 31/05/2009

I Caminhada Gingando pela Paz

I Caminhada Gingando pela Paz pela poribição do Comércio de Armas no Brasil. Rio de Janeiro.

 

Li certa vez em um livro de nome, A Liberdade de ser Você Mesmo, do Osho, sobre uma nova forma de revolução. Ao contrário de muitas outras, com seus mártires, lemas e bandeiras, falava ele da revolução silenciosa, aquela que acontece dentro de cada um e que apenas nós seríamos sabedores dela. Dizia ele que este poderia ser um exercício muito difícil e que somente através dela poderíamos alcançar a verdadeira liberdade.

É exatamente nesse ponto em que a capoeira exerce a sua maior força. Ela atua diretamente no íntimo mais íntimo de cada um inspirando mudanças; surpreendendo o corpo e libertando a mente para um novo momento, para um renascimento. E a medida em que o capoeirista penetra em seus fundamentos ele é convidado a olhar o mundo e as relações com outros olhos, de maneira bem mais reflexiva e a assumir o protagonismo da sua história.

Mas, diferentemente da revolução silenciosa do Osho, a revolução da capoeira é compartilhada, celebrada e ao seu tempo e aos poucos está atuando na criação de uma grande rede que está unindo cada vez mais pessoas, de diversas nacionalidades, credos, condições sociais, inspirando-os à consciência para uma nova sociedade. Certamente, temos um longo caminho para percorrer até lá. Ainda arrastamos alguns grilhões que nos impede de seguir adiante com maior agilidade; ainda nos permitimos tropeçar em depressões por quais já passamos. No entanto, as folhas velhas inevitavelmente hão de cair com o tempo dando lugar a novas. À geração que aí está, e principalmente às futuras não lhes basta apenas absorver o conhecimento produzido até aqui, elas chegam com outras necessidades. Neste sentido, modelos, normas e tudo quanto serviu de sustentação até aqui já não mais responde às suas expectativas e a mudança é inevitável.

 

Mas, qual é o papel de cada um de nós educadores?

Para esse momento, é imprescindível que cada um empenhe aquilo que faz de melhor para que possamos, realmente, adentrar uma nova era. É preciso que estejamos despertos e comprometidos pois a responsabilidade, tão importante quanto a própria liberdade, deve estar presente todo o tempo neste processo. E como educadores devemos ter a consciência de que cada um de nossos alunos têm um papel a realizar tão importante quanto o nosso, e que somos apenas mais uma parte, importante, mas uma parte, de um todo.

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A Comunicabilidade na Capoeira

Posted by flaviosaudade em 20/02/2009

 

 

 

Uma das valências mais importantes da capoeira é a comunicabilidade, que está presente em diversos de seus elementos. Nos cânticos as mensagens estão sempre convidando o ouvinte para um exercício de reflexão. Mas, é no corpo que o diálogo parece ser mais intenso.

 

Para o iniciante, a capoeira apresenta inúmeros movimentos aparentemente estranhos. Principalmente os mais baixos, em que ele tem de estar em contato com o chão, é muito comum sentir desconforto, desequilíbrio. Parece mesmo que o corpo reclama no momento em que lhe é solicitada uma nova posição. E é muito comum o esquecimento das movimentações mais simples.

 

Porém, a maior parte desses movimentos não são novidade. Na infância o corpo está habituado a maior parte deles por conta do hábito de engatinhar. Mesmo uma queda normalmente não oferece grande risco, pois o contato com o chão é intenso. No entanto, no momento em que nos acostumamos a andar de pé isso vai se perdendo e o chão parece estar mais longe. Passamos a temê-lo, principalmente quando repentinamente temos de recorrer a ele. Neste momento é muito comum ocorrerem traumas e fraturas.

 

Porém, ainda que o praticante encontre dificuldade, todas essas informações continuam contidas em seu corpo, bastando apenas que ele as acesse. E é exatamente o que a capoeira oportuniza nos seus primeiros momentos de aprendizado. Permite ao praticante resgatar essas informações. Inicia-se aí uma das etapas mais importantes, em que ele começa a tomar consciência do seu próprio corpo. E apesar da dificuldade inicial, com a prática os movimentos se tornarão tão normais como o hábito de caminhar.

 

Por esta razão, nesta primeira etapa, é importante que o educador ensine movimentos em que o aluno esteja em contato com o chão, que exijam do corpo posições diversas. A ginga, as descidas como as esquivas, negativas e o aú oferecem resultados muito positivos e são extremamente importantes para toda a sua aprendizagem futura.

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O “Iê”: mais que um cumprimento, uma oportunidade para o aprendizado.

Posted by flaviosaudade em 05/02/2009

 

cumprimento para o jogo

Dopporté e Corsário: cumprimento para o jogo

A capoeira nos oferece inúmeras possibilidades para o trabalho. E na qualidade de educadores devemos estar conscientes para identificá-las e utilizá-las no momento oportuno. Para tanto, é extremamente importante o estado de vigia. Assim como no jogo, todos os sentidos devem estar despertos pois muitas delas podem passar despercebidas, por descuido ou mesmo por estarmos tão acostumados que não alcaçamos o seu potencial.   

Um desses momentos é o nosso “Iê”, que sempre foi para mim a melhor maneira de saudar meus camaradas e também a forma com a qual peço licença ou proteção para iniciar o jogo. Uma pessoa muito querida que reforça isso é o mestre Mendonça (RJ), relator da regulamentação da capoeira nos idos de 1932; um dos baluartes da nossa arte com a qual tenho o privilégio de tomar lição sempre que o encontro ou telefono para ele. Ser humano espiritualizado que sempre reforçou a importância dessa saudação entre os capoeiristas.

 

No entanto, apesar de buscar valorizar sempre esta atitude, ainda não tinha me dado conta de que ela oferece uma oportunidade ímpar para o trabalho. Mais que uma saudação o “Iê” encerra valores como o respeito e atua fortemente no sentimento de pertencimento.

 

Certo disso, tornamos a saudação uma de nossas regras. O aluno ao chegar, após arrumar as suas coisas sauda a todos que estão na roda. E todos devem saudar a sua chegada. Claro, no início eles não compreendiam muito bem, mas hoje eles já fazem questão de utilizá-lo. E quando um ou outro esquece, todos os outros camam a sua atenção para que retorne à entrada e faça o cumprimento.

 

Outra forma em que o “Iê” está produzindo resultados maravilhos é para chamar a atenção. Neste quesito (já em clima de carnaval) ele merece o Estandarte de Ouro. É impressisonante como as crianças atendem quando o “invoco”, seja para por fim a uma discussão, seja para chamar a atenção, seja para nos despedir… E o que mais me alegra é estar na rua e ouvir, entre uma mar de pessoas, uma voz a me saudar: Iê! Isto, verdadeiramente não tem dinheiro neste mundo ou em qualquer outro que pague.

 

Iêeeeee!

 

 

 

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